Nasceu-te um filho. Não conhecerás, jamais, a extrema solidão da vida.
Se a não chegaste a conhecer, se a vida ta não mostrou – já não conhecerás a dor terrível de a saber escondida até no puro amor.
E esquecerás, se alguma vez adivinhaste a paz traiçoeira de estar só, a pressentida, leve e distante imagem que ilumina uma paisagem mais distante ainda.
Já nenhum astro te será fatal.
E quando a Sorte julgue que domina, ou mesmo a Morte, se a alegria finda – ri-te de ambas, que um filho é imortal.
Jorge de Sena, in ‘Visão Perpétua’